sábado, 20 de novembro de 2010

Porque lá o vôlei é mais que um esporte.

Estimados leitores, percebo que não vai ser tão fácil manter o ritmo que eu queria com a qualidade que exijo para este blog. Mas escrevo neste momento com uma certeza muito grande: adoro o "Por que Peru?", e não o abandonarei tão cedo assim! E sem perder mais tempo, já que eu mesmo já estava ansioso para o próximo post, vou falar de algo que faz parte totalmente da vida de um peruano: o vôlei feminino.

Eu sempre pensei em falar do vôlei só depois do futebol, que é a outra grande, ou melhor, GRANDE paixão nacional! Mas recentemente, vendo o último campeonato mundial de vôlei, levando em conta a participação da equipe e da torcida peruana... não consegui deixar o assunto para depois.

Nas madrugadas de, digamos... umas duas semanas atrás, eu via meus amigos do Peru postando no Facebook coisas como "Arriba Peru!" e "Vamos Peru, sí la haces!". E sabe por que? Por que no Peru, boa parte da população estava acordando no meio da madrugada para ver os jogos de vôlei da seleção peruana no mundial do Japão.

Muito diferente do que acontece no Brasil, o vôlei feminino é realmente uma paixão no Peru. Não se trata apenas de assistir, é muito mais do que isso. Fizeram até um jingle de apoio à seleção neste mundial:

(E eu me pergunto... o que fizemos pelo Brasil?)

Para os perdidos de plantão, neste último domingo foi a final do campeonato mundial de Vôlei (que para quem não sabe o Brasil perdeu para a Rússia na final). Infelizmente, muitas pessoas por aqui não tinham nem idéia disso, e mesmo você, caro leitor, provavelmente não saberia dizer o nome nem de três jogadoras da seleção brasileira. Mas enfim, deixo as comparações e reflexões para vocês, pois estamos aqui para falar do Peru!

Então... Quem foi o Peru no mundial? Bom, a verdade é que a equipe teve mesmo uma atuação um pouco apagada. Mas a torcida sim deu show, e se houvesse prêmio para a melhor torcida, eles seriam um forte concorrente. Afinal, não se encontra tão facilmente algum peruano que não tenha na ponta da língua nomes como...

Leyla Chihuán 
(A capitã, e a mais popular)


Jessenia Uceda 
(Que apesar dos baixos do passado, vive agora os altos momentos de sua carreira)

Karla Ortiz 
(recém ingressando a categoria principal com seus 18 aninhos)

e Elena Keldibekova 
(naturalizada do Cazaquistão)


E por que não foram tão bem? Bom, eu ainda acredito que tamanho no vôlei é algo que ajuda muito. E o Peru, como um país em que a estatura média das mulheres é 1,51 metros (contra os 1,62 m do Brasil por exemplo), invariavelmente têm dificuldades extras. Provavelmente, eles são mesmo a seleção mais baixa do mundial. Mas olha o que pensam os peruanos sobre isso:




O desempenho que essa seleção apresenta, na minha opinião, faz dela um mito. O "pouco" que conseguiram beira o improvável, e está claramente fundado em, como disse o vídeo,  não em lógica, mas sim garra (treinamento árduo e persistência), coragem (para enfrentar a lógica, e derrubar vários times que tem a estatura a seu favor) e um toque de irreverência (para apaixonar ainda mais seus torcedores). Ou seja, de fato, não são a seleção campeã. Mas temos muito o que aprender com eles.


(Afinal, não é bem mais difícil encarar uma equipe quando ela tem tanto apoio?)

Agora, para explicar de onde vem toda essa emoção, terei que falar um pouco de história...

Embora tenha chegado oficialmente no Peru em 1911, foi só em 1982 que as coisas começaram a mudar para o vôlei no país. Com a morte do então técnico da seleção, assumiu o sul-coreano...

Man Bok Park

Que de cara conseguiu nesse mesmo ano o segundo lugar no mundial realizado no Peru, e o quarto nas olimpíadas de Los Angeles, a primeira que participou depois que assumiu. Mas a verdadeira lenda, e o fato que mudou a história do esporte no país, foram os jogos olímpicos de Seul em 1988. A seleção peruana, nesse momento, era uma seleção que encantava a todos com sua agilidade e técnica.

Após passar facilmente da primeira fase (por sinal, dando um coro de 3 a 0 no Brasil), ganhou também de outras grandes, como a antiga adversária e soberana seleção norte-americana. Na final, então, já não havia nenhum peruano que seria louco suficiente para perder o duelo com a então União Soviética. Numa partida de tirar o fôlego até dos mais saudáveis pulmões, a seleção peruana chegou a fazer 2 sets a 0, mas infelizmente acabou perdendo pro 3 a 2, levando a medalha de prata.

Embora tenha acabado em derrota, esta olimpíada provou de vez que ganhar um jogo vai muito além do que é físico, e que muito pode ser feito quando se joga com o coração. Isso encheu os peruanos de orgulho e esperança, e talvez é o que mantém fiel e apaixonada a torcida peruana até hoje.

E é claro, tudo foi no mínimo épico. Rendeu até uma música:

(Que é na verdade a versão original do vídeo anterior da Telefônica)

Que, como me disseram, é entoada pelos peruanos nos jogos de vôlei como se fosse um hino, e até hoje faz recordar e encher a nação de orgulho ao lembrar dos jogos de 1988.

Além de conhecer a seleção atual de vôlei, muitos dos peruanos hoje (até mesmo os que não eram nascidos na época) têm na memória e no coração nomes como "Man Bok Park", que é o técnico anteriormente citado, e jogadoras como:


Gabriela Perez del Solar (Gaby)

Natalia Malaga

E também a inesquecível:

Cecilia Tait

Que era conhecida como "A canhota de ouro", que é sem dúvida uma da canhotas mais conhecida da história do vôlei mundial!


O retorno ao país da seleção nesse ano também foi inesquecível. Considerada a revelação DA OLIMPÍADA, as jogadoras e técnico da mesma foram condecoradas no Palácio do Governo (a Casa Branca do Peru) pelo presidente da república, em um evento que entupiu o trânsito nas ruas de tanta gente que quis estar lá para ver de perto e vibrar com a legendária seleção.


Sabe... quantas vezes após um jogo escuto a frase: "E daí? Se ganharam ou perderam, não fiquei mais rico nem mais pobre.". E é verdade, o Brasil ficou em segundo no mundial, e isso para nós não fez quase nenhuma diferença. Enquanto a seleção peruana, apenas por ter ido ao mundial, fez um país inteiro explodir de emoção. Talvez não é a vitória ou a derrota o que mais conta, mas sim, os fortes momentos de emoção que passamos, o sentimento de orgulho, os abraços que trocamos, os "hinos" que cantamos. Acredito mesmo que o que mais vale em uma vitória para nós torcedores não são os resultados, mas sim a felicidade que ela nos proporciona!

Então fica aqui meu pequeno apelo: vamos valorizar mais nossas conquistas!


P.D.: Muito obrigado à Guillermo Mendonza Garcia pela enorme colaboração para este post!

¡Y que viva el Perú, carajo!

5 comentários:

  1. Opa!! vc deu uma boa pesquisada mesmo hein! rsrsrs Vamos Perú carajo!!!

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  2. É verdade! hehe Sempre dou uma boa pesquisada antes de fazer os posts. E além da pesquisa, sempre tem gente me ajudando com informações também, como o Guillhermo Mendonza nesse caso. Abraços!

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  3. E digo mais...Não só no voley que o Perú bate no peito, vai muito mais além (que eu acho que deverias criar um post sobre) que é o Dia da Patria peruana 28 de Julho. Cara o país explode de emoção fazem festas, feriados, reunião familiar, ouvem música criolla,enchem as casas de bandeirinhas do Perú, ou seja, o país literalmente PARA. Enquanto no Brasil o 7 de Setembro é dia de ver uns soldadinhos fazerem macha militar e do povo ir pra praia, SÓ, literalmente uma V-E-R-G-O-N-H-A. Brasil não valoriza sua história patriarca. O que vemos no Perú é um povo que valoriza sua história, e a camisa ROJA Y BLANCA que leva o nome PERU pra o mundo, através do voley, futebol, etc. E isso eles valorizam muito!

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  4. Sim, pretendo criar posts sobre tudo isso com certeza! Como diz o título do Blog, o Peru é um país surpreendente, e são coisas como essas que você disse que mais me supreenderam e motivaram a escrever o blog, e espero poder transmitir a todos!

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  5. Hola, me llamo Martín, soy peruano y me gusta tu país (Brasil) que también es sensacional, pero te agradezco el darle los honores a mi querido e inolvidable Perú. La experiencia adquirida es lo que le define al hombre y te hace más ser humano. Gracias Palomito y sigue con tus proyectos!
    Abrazos!!!

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E aí, não é um bom motivo para gostar desse país? Comente!